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Ricardo Di Carlo

Autor: Ricardo Di Carlo

Sobre "O Jardim das Cerejeiras" de Tchekhov

21/2/2018 - Ribeirão Preto - SP


Fonte da imagem: Esvaziando a prateleira

 

Antes de tudo falemos do genial escritor, Anton Tchekhov, nascido em 1860, morreu em 1904. Aos 17 anos de idade escreveu uma tragédia demonstrando, assim, a sua vocação literária, tão logo saiu do colégio, foi para Moscou, onde em 1.899, conseguiu levar à cena um drama, Ivanov e uma comédia A gaivota - escrita originalmente para ser comédia, porém o diretor da montagem Constantin Stanislavski (1863-1938) a eternizou como um drama. É conhecido historicamente o atrito entre os dois por conta disso

É um dos mais extraordinários escritores russos e mundiais do seu tempo, humorista áspero e pessimista, mas de incontestável genialidade. Abordava os humildes, as paisagens desoladas, os sentimentos doces e poéticos, mas repassados de uma plácida amargura dos tristes medíocres ou desamparados, tem nele um cronista arrebatador, fulgurante por vezes, de uma originalidade desconcertante, mas sempre maravilhosa.

 Tchekhov foi um expoente em seu período, radicalizou o cenário da arte dramática escrevendo peças que evidenciavam os desejos, os dramas de pessoas comuns, distantes do ainda habitual heroismo verificado na literatura dramática. O autor é recohecido por identificar e tornar grandioso em suas histórias aquilo que os demais banalizavam.

Deste modo, o autor expressa em “O Jardim de Cerejeiras”, uma grande mudança que vem ocorrendo na passagem do século XIX para o século XX. Para isso conta a história de uma família com personagens minuciosamente bem definidos. Tudo ocorre no modelo de uma família tradicional do século XIX. Uma matriarca cujo todos os seus agregados, considerando filhas, irmão, empregados, estão inertes; esperando o rumo que será tomado pela matriarca, frente a situação posta naquele período. A peça apura a cena como se fosse um retrato da “realidade” da sociedade russa naquele período. Na qual as famílias ainda viviam sobre a proteção de um líder familiar. Ignorando as mudanças que iam surgindo.

 

Em o Jardim das Cerejeiras, a matriarca, é uma mulher que perde o marido, e desiludida pela sequente morte do filho.  Desorientada é ainda obrigada a desempenhar o papel da mulher que vive dos negócios, mesmo ser ter aptidão para tanto. É desse modo que seu patrimônio se esgota. Esse encadeamento causal reflete a realidade da mulher no século XIX.

Sem condições emocionais para lidar com isso, Renévskaia (a matriarca) deixa sua propriedade no interior – onde tem em seu anexo o jardim de cerejeiras, aos cuidados de seu irmão. Este como sempre viveu sob o teto de um líder familiar não administra este patrimônio com eficácia. O que ele faz é lidar com com que o jardim das cerejeiras, que já não dá lucro, porém mantém a imagem aristocrática da família. Isso ocorre ate que endividados, o jardim precisa ser leiloado.

 

Em suma a peça conta apresenta o retrato de uma família russa que busca o que fazer em frente ao cenário de mudanças que a virada daquele século trazia. Um novo modelo de família se desenhava. Novos hábitos teriam de nascer, mas isso todos os personagens ainda teriam de descobrir. Esta é a incógnita que fica com o fim da peça. Teriam esses personagens adaptado-se a essa nova ordem econômica? Como resposta, podemos dizer que este não era o interesse de Anton Tchekhov, ao contrário ele queria demonstrar aquele recorte de tempo, a transição de um século ao outro, suas mudanças sociais e o impacto disso numa família, que poderia ser qualquer família russa. Esta peça representa, não somente a história desses personagens, mas simboliza o que estavam enfrentando os russos em meio a transformação social e econômica que se impunha e que impactaria em todo o novo século em questão: o século XX (consolidação  do Modernidade).

 

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