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Ricardo Di Carlo

Autor: Ricardo Di Carlo

A Potencialidade Cênica de Medeia

23/2/2018 - Ribeirão Preto - SP

Imagem: Medea de Eugène Delacroix

 

Representada em 431 a.C esta tragédia grega, escrita pelo célebre Eurípides  nos presenteia com uma das protagonistas mais ardilosas e magistrais de toda a história mundial do teatro, estrangeira e perseguida pelo seu passado, Medeia configura um novo tipo de personagem na tragédia grega, marcando a inserção da força de um personagem feminino no sistema teatral no mundo. 

Eurípedes articula tal feito ao fazer com que sua protagonista (a inteligentíssima Medeia) aproprie-se das características mais fortes do mito trágico da entidade Medeia.

Para quem ainda desconhece o enredo da peça leia, a postagem anterior em que faço a análise da peça de Medeia, que ao fugir do conformismo de sua situação e se desligar da justificativa dos deuses, tomando sobre si toda a responsabilidade das suas ações (antes tudo era questão de destino; articulado pelos deuses) arquiteta sua vingança de mulher carregada de amor e ódio.

Medeia é uma peça muito bem construída, com todos os traços de uma tragédia, e entra no âmago da personagem central e suas emoções. Revelando a profundidade da obra. Sem dúvidas a heroína salta aos olhos. Conquanto é possível não notar a genialidade de Eurípides na construção dos demais personagens, uma vez que, ao ler as falas dos mesmos é possível traçar o perfil psicológico de cada um deles. Ao longo da peça nenhum personagem foge de sua linha dramática tão bem definida.

É impossível não mencionar a grandiosidade da vingança do primeiro grande personagem de alma feminina, Medéia. O perfil psicológico da personagem, suas falas, suas viradas, sarcasmos e atitudes atemporais num personagem que sente tudo a flor da pele tornam a trama digna de sua grandiosidade atingida ao longo dos anos. Trata-se de uma obra que é (!) porque merece ser eterna. Um texto de enorme potencialidade cênica, tanto no que diz respeito ao trabalho do ator, no plano da interpretação, como no que concerne a esfera da encenação do espetáculo teatral em si. Falando em termos de voracidade, intensidade factual, causal. A personagem/peça tem predicados em todas as esferas do teatro; revolve as emoções humanas, e por certo consiste num grande desafio àqueles que se dedicam a remontá-la.

 

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