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Ricardo Di Carlo

Autor: Ricardo Di Carlo

Análise Literária de "Édipo Rei" de Sófocles

3/3/2018 - Ribeirão Preto - SP

 

Imagem: "Édipo e a Esfinge" de Gustave Moreau, 1864.

Sobre o texto clássico, Édipo Rei: trata-se de uma tragédia de origem grega, que é considerada por muitos a obra mais perfeita dentre as tragédias. Nela, tudo gira em torno de Édipo, ou seja, o personagem título é o foco narrativo do texto, e exemplifica a figura do homem e sua impotência frente ao seu destino.

A peça conta a história de Édipo, filho de Laio e Jocasta. Rei de Tebas, Laio é avisado pelo Oráculo de Delfos que viria a ser morto por seu filho, e que este mais tarde tomaria a própria mãe por sua esposa. Diante desta ameaça Édipo tem seus pés amarrados (motivo de seu nome, Édipo significa pés inchados) e é entregue por Jocasta a um pastor para que ele o entregasse a morte. Mas, este se sentiu penalizado e ofereceu o bebê a outro pastor para que o criasse, entretanto este segundo o deu para Políbio – rei de Corinto –, que por sua vez o criou como filho ao lado de Mérope, sua esposa.

Certa vez, Édipo já adulto é ofendido em festa de sua família, sendo dito como filho ilegítimo de Políbio. Revoltado com a acusação Édipo vai até seus pais que negam tal denúncia, mas diante da dúvida em sua mente, Édipo consulta um oráculo, que não lhe esclarece estes fatos, mas lhe diz que ele viria a matar seu próprio pai e a tomar por mulher sua própria mãe. Temendo este fato, Édipo foge de seus pais adotivos, temendo que a profecia se cumprisse, desconhecia ele, o fato de Políbio e Mérope serem seus pais adotivos.

Em caminho tripartido, Édipo se depara com Laio e sua comitiva; estes o empurravam violentamente para fora do caminho. Édipo, em cólera, torna-se o assassino de seu pai, o assassino de Laio. Ao continuar sua viagem decifra o enigma da esfinge, que assombrava Tebas devorando aqueles que não decifravam seu enigma. Por ter realizado tal feito, Édipo desposa a rainha de Tebas e assume a posição de rei. Com ela teve quatro filhos (Antígona, Ismênia, Polinice e Eteócles). Amado pelo povo de Tebas, ele é louvado como herói, mas após alguns anos de bem aventurança, eis que Tebas é assolada por uma peste. E é neste ponto do mito de Édipo, que o texto de Sófocles se inicia.

Édipo recebe os suplícios do povo. Ele lhes informa que seu cunhado (Creonte) foi ter com o Oráculo de Apolo a resposta da causa dos males de Tebas. Ao voltar Creonte informa que a peste assolada decorre de um mal não curado, o assassinato de Laio. Édipo então se dispõe a purificar esta falta de Tebas. E assim toma conhecimento de sua tragédia. Investigando o causador das chagas de Tebas, Édipo se depara com o seu passado. 

Verificamos aqui, o que ROSENFELD (1968, p. 56-58) nos diz sobre o que é trágico, se há sempre um herói atuante pelos princípios de altos valores; o herói atua e o destino abate-se sobre ele enquanto este estiver lúcido e consciente, tem de enfrentar o destino e engajar-se sabendo o que está fazendo.  O referido autor ainda assevera que “a tragédia só surge quando há valores fundamentais em choque e também quando o homem não é livre, e sim determinado por fatores de causalidade interna”.

Constatamos a presença da arquitetura trágica que se usa de todos os elementos trágicos da tragédia para validar Édipo Rei como uma obra atemporal. Unindo mito, valores sociais e familiares, o Édipo de Sófocles foi “escrita talvez pouco depois de 430 a.C., já que menciona a grande peste ocorrida em Atenas nessa época”, diz ROSENFELD (1968, p. 80). De acordo com o referido autor, “Sófocles é o mais trágico dos trágicos gregos, seu mundo está regido pelos deuses, ainda é mundo teocêntrico”.  Isso nos é revelado pelo fato de Laio e Jocasta fugirem do seu destino, mas o enfrentarem fatalmente. E após isso, no destino de Édipo que ao fugir de sua sina, fatalmente a encontra, matando o próprio e casando-se com a própria mãe.

 

REFERÊNCIAS

ROSENFELD, Anatol. A arte do teatro – Aulas de Anatol Rosenfeld (1968). Editora: Publifolha.São Paulo, 2009.

 

 

 

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