COLUNISTAS
Autor: Vander Christian
Extinção
4/3/2018 - Ribeirão Preto - SP
Não faz muito tempo. Pessoas ficavam nas ruas conversando até mais tarde. Eu mesmo ficava conversando com um grupo de amigos, sentados na calçada depois da aula. Falávamos sobre tudo, principalmente sobre o futuro. Futuro do país e o futuro de cada um ali presente. Havia sim certo receio de ficar na rua até mais tarde, mas nada se compara aos dias de hoje, que o receio deu lugar ao pânico, e a roda de amigos nas ruas depois das sete da noite, chegou ao fim.
Hoje só fica na rua até mais tarde quem realmente precisa. E muita gente precisa. O trabalho é longe, a faculdade é distante... Não tem escolha. O jeito é se aventurar no meio da escuridão. As balas perdidas, infelizmente viraram rotina numa cidade que tem por apelido um nome interessante: Cidade Maravilhosa. Um fato mais curioso ainda é que, de um lado da cidade, pessoas se aventuram na escuridão ao sair do serviço ou da faculdade, sem tempo para ver a Cidade Maravilhosa, enquanto do outro lado um evento esportivo, com transmissão mundial acontece. Não sou contra nenhum tipo de esporte, mas acho interessante a quantidade de segurança que tem nesses eventos, enquanto um cidadão comum não pode ficar até mais tarde na rua, conversando com alguém na calçada.
Mas também, o que dizer de uma cidade onde as pessoas não estão seguras nem mesmo dentro de suas casas? E não é só a Cidade Maravilhosa que padece desse problema. Em algum momento, as ruas de nossas cidades se tornaram um lugar proibido, pronto para punir quem quiser agir de forma diferente. Os governantes não estão muito interessados em resolver esta questão. Foi tirado o direito de ir e vir da população de maneira cruel. Nos dias de hoje, a sociedade vive dentro de suas casas, respeitando ao máximo o perímetro imposto por alguém, que talvez esteja dentro dos presídios de segurança máxima do nosso país.
Triste lembrar das rodas de amigos nas calçadas, extinta de maneira tão precoce. Acho que se fosse para dar um nome ao atual momento de nossa sociedade, o melhor nome seria EXTINÇÃO. Hoje sabemos que o quadrado, daquele velho ditado: Cada um no seu quadrado, não nos protege de nenhum tipo de violência, aliás, até esse quadrado foi extinto.
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