Autor: Anderson Zanchin
Mais umas vez o espaço dos artistas de Jundiaí, “O Ateliê Casarão” , conhecido por receber artistas e admiradores da arte, foi sede da 4º Mostra de Teatro.
Coordenado pelo artista Cláudio de Albuquerque, o Casarão, traz proximidade e aconchego para quem chega. Um lugar para troca de idéias, peças teatrais, cursos artísticos, danças, boa música e um cantinho para fazer novas amizades sem qualquer tipo de preconceito.
Na quarta-feira (8), houve a apresentação de “ O Abajur Lilás”, texto escrito em 1969 pelo dramaturgo Plínio Marcos. Escritor do realismo e naturalismo, que além de escrever belas peças teatrais durante o período militar, foi também jornalista, diretor e ator.
Diversas adaptações foram feitas desde que o texto foi liberado em 1975. Sem dúvida alguma, o grupo teatral Água Fria ,de Cajamar, deu um toque diferente na adaptação da peça.
(foto: Cintia Carvalho)
Embora o texto sugira ousadia, foi com um toque sutil que Sérgio Carvalho, diretor do grupo, ganhou a atenção do público. As cenas violentas não contaram com atos vulgares nem tão pouco explícitos. Com um cenário simples onde não existe o bem ou o mal, sem vilão nem mocinha, a peça retrata bem o íntimo do ser humano, exteriorizando o lado podre e animal - uma luta pela sobrevivência.
“Que merda, que merda, que merda” . Com um ar cômico e hostil, com nuances de sotaque caipira e voz que vai do agudo ao grave, o ator Heberte Guilherme dá vida ao cafetão homossexual Giro. Além de sua interpretação impecável, digna de um espetáculo único, Guilherme também é produtor da peça.
Outra interpretação impecável, digna de grandes palcos,é a da atriz Keila Kois,que interpretou a prostituta Célia. Não só a sua entonação vocal, mas todo o corpo acompanhava uma linearidade na interpretação. Keila roubou a cena e alcançou o objetivo de arrancar sensações do público.
Com vários olhares é possível identificar em cada personagem sua luta interior. Não existe um protagonista, nem o certo ou errado. A história se passa em um quarto de bordel, onde três prostitutas, Dilma, Célia e Leninha, dividem seus problemas. O bordel onde se passa a trama ganha vida pelo proprietário, Giro, dono do Mocó.
Que bom que existem lugares alternativos que disseminam a cultura em Jundiaí. Plausível a iniciativa de Carlos Albuquerque por mais uma vez abrir as portas do Casarão. Palma também para o grupo teatral Água Fria, que mostrou que para fazer arte basta ter vontade. E ao público, que se pré-dispôs em plena quarta-feira, deixar a televisão e dar uma chance à arte.
“O Ateliê Casarão”
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Sinopse
Nesta montagem d'O Abajur Lilás, produzido por Hebert Guilherme e o Grupo Teatral Água Fria, optou-se pela ênfase na relação de poder entre as três prostitutas e o gigolô homossexual Giro. Neste consagrado texto de Plínio Marcos, o grupo prossegue na pesquisa iniciada com a montagem de "A Vida é Sonho" de Calderón de La Barca, e do estudo do texto extrai todas as possibilidades de criação dos personagens e da montagem, caminhando assim para a essência do espetáculo, sua força dramatúrgica.
Ficha Técnica:
Direção e iluminação: Sergio Carvalho
Trilha musical: Hebert Guilherme
Figurinos e cenários: Hebert Guilherme e Grupo Teatral Água Fria
Texto: Plínio Marco
Elenco:
Hebert Guilherme Giro
Vanessa Mendonça Dilma
Keila Kois Célia
Elizabete Araújo Leninha
Leonardo Molina Oswaldo
Histórico:
O Grupo Teatral Água Fria foi criado em março de 2009, em Cajamar, e desde então realizou 08 montagens teatrais entre dramas, comédias, esquetes, peças de rua e musicais entre elas “A Ópera do Malandro”, “A Vida é Sonho” e “Palhaços”.
Realizou também 04 performances voltadas à saúde humana e em menos de um ano se apresentou para mais de 20.000 pessoas.