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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Uma foto

7/7/2019 - Ribeirão Preto - SP

   A forma bem feita acrescenta ao conteúdo. A vida,cheia de conteúdos em seu vazio, precisa ser capturada de alguma forma. De tudo que existe, uma das mais feias e complexas existente é a pobreza. Que se mostra em formas muito diferentes em lugares aonde existe, praticamente todos. O artista capturá-la é das coisas mais difícies, principalmente por que cada ser na sociedade a enxerga de forma diferente. Mesmo que o artista olhe pelos olhos dos pobres, a dificuldade não é superada, pois cada pobre se interpreta de forma diferente. O conto "É que somos muito pobres" de Juan Rulfo, conto integrante de "O chão em chamas", a alcançou, forma demonstrando o conteúdo. A maestria de Rulfo está em ter retratado a consciência de pobreza, em primeira pessoa, a consciência de que quem sabe estar existindo, tem total consciência de ser, é pobre e está na vida. 

   Sua forma de escrita pode ser caracterizada como precisa, o adjetivo mais preciso perante sua força. Acerta por mostrar uma visão completa sobre o que ocorre, sob a visão do protagonista, individual, mas capaz de mostrar um todo, sem reduzir o personagem a um tipo social, tornando o personagem um indivíduo que sofre o social, faz parte muito intensamente, em uma camada muito vulnerável. A falta de nome próprio para este, reforça o caráter de anonimato, fazendo dele um indivíduo sem nome, que apenas vive e percebe a realidade do interior mexicano em que vive. 

    A situação por qual passa o personagem ocorre a partir de uma enchente e de uma possível realidade temida, que se torna possível após a água carregar a vaca que tinham. Sendo família muito pobre, a vaca e seu bezerro era a esperança do pai em evitar que sua terceira filha se tornasse prostituta, como já havia ocorrido com as duas mais velhas. O animal seria capaz de dar algum capital ou um casamento para a filha Tacha. Após a enchente, a vaca e o bezerro somem. Tacha e o irmão, narrador da história, começam sua busca pela região, descobrindo ter morrido, a vaca. Sabendo o que pode vir a ocorrer, o conto termina com um abraço entre eles, com vaga esperança de recuperar o bezerro. 

    Sendo um texto de forma simples, explora o poder das palavras na sua máxima forma, sendo capaz de transmitir seu conteúdo em sua densidade mais complexa. Demonstrar, em contradições, em visões, em irracionalidades, o indivíduo anônimo consciente, que se percebe como parte de uma realidade da qual não espera e nem vê como sair. A prosa, diante do leitor, vai sendo absorvida em toda a sua composição, compondo um conto extremamente forte para a transmissão de ideias e de construção, bem como uma maneira de escrita completa em sua forma, capaz de ser um todo. 

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