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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Um inseto monstruoso no mundo

6/10/2019 - Ribeirão Preto - SP

       Franz Kafka mostrou personagens isolados, odiados e perseguidos. Nenhum deles se sentia em posição de defesa, em grande parte por desconhecer o que os cercava. No caso de sua novela " A metamorfose" trata-se de Gregor Samsa, importante para uma família; acorda, um dia após sonhos intranquilos, transformado em um inseto monstruoso. Antes de especificar o que lhe ocorrerá a partir de então, digo que o caixeiro viajante transformado se tratava do arrimo.

      Quando era humano, sua relação com a família oscilava entre relações familiares e as cobranças típicas dos em sua condição. Era gostado, mas vivia na vida, com tudo que a cerca. Quando acorda metamorfoseado, após se perceber e assustar, fica muito trancado no quarto. Os pais e a irmã, preocupados, bem como o chefe da firma, que mandara um contínuo buscá-lo. O chamam e ele não aparece.Quando aparece, após incidentes e sustos, desmaia com uma bengalada na cabeça. 

      A rotina fica alterada, Gregor passa a ficar no quarto, alimentado pela irmã. Recebe o lixo que os insetos comem e a irmã tenta desenvolver algum laço com o irmão naquela condição, o que não acontece. Os parentes passam então a pensar na maneira como irão viver e se sustentar, antes da metamorfose eles queriam, incluindo Gregor, enviar a irmã a um conservatório. Muito pensado, acham maneiras de resolver os próprios problemas e acham que será melhor que Gregor morra. E ele morre, no quarto. A família segue a vida, com bons e maus momentos, igual antes. 

      O universo kafkiano tornou-se célebre na literatura, entre motivos de construção e maneira de narrar, força das palavras, pelas situações ocorridas. Se, "A metamorfose" trata uma conspiração contra alguém puxando pelo impossível, ainda que de grande valor metafórico, obras como "O processo", usam de algo perfeitamente possível de acontecer. Tal mundo, ou melhor, tal condição neste mundo, a condição kafkiana, se apresenta como algo que perde seu valor e, aparentemente, precisa morrer. Ainda que pareça improvável ou fruto de alguma forma de delírio, pode acometer qualquer um, em contextos e formas vários. 

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