ColunistasCOLUNISTAS

Vander Christian

Autor: Vander Christian

Ligação Enganosa

29/12/2019 - Ribeirão Preto - SP

Acho que aos poucos ele está ficando de lado. A quantidade de poeira que é preciso tirar de cima dele todos os fins de semana, comprovam isso. Houve um tempo em que ter um telefone fixo em casa, significava muita coisa.

Você viu, fulano está com telefone em casa!

O comentário saía assim, um misto de surpresa e inveja. Lembro que todos os vizinhos já tinham telefone, quando meu pai fez a assinatura. Como estávamos prestes a mudar para uma casa maior, construída ali mesmo, nos fundos do quintal, o telefone ficou na casa vazia. Quando tocava, saímos correndo para atender. Planejávamos mudar em breve. O breve demorou mais do que o esperado. Algumas vezes, tarde da noite, era preciso sair correndo para atender. Poucas foram as vezes em que conseguimos uma resposta de volta. O silêncio do outro lado da linha, indicava que era engano. E foram muitos os enganos. As financiadoras eram as que mais ligavam, procuravam por alguém que eu nunca conheci. Finalmente, mudamos para a casa nova. As corridas durante a noite pararam. Muitas vezes, ao ouvir o telefone tocar, tínhamos esperanças de conseguir manter uma conversa com alguém do outro lado. Nunca entendi a quantidade de ligações enganadas que eram feitas para o número de casa. Por que aquilo acontecia com tanta frequência? A reposta nunca foi respondida.

— Vou cancelar a linha. Chega de aborrecimento — disse meu pai, decidido.

Não foi tão fácil cancelar, mas conseguimos. Fiquei desapontado. Na minha opinião, voltamos a ser cidadãos comuns novamente. Na casa dos meus pais, nunca mais teve telefone fixo.

Quando consegui minha independência, pedi uma linha para casa. Agora sim, pensei, entusiasmado. Não tinha planos de cancelar a linha telefônica tão cedo. Mudei de ideia nas minhas férias. O telefone começava a tocar cedo. Antes das sete horas, lá estava eu dizendo “alô” ainda cheio de sono. Nenhuma resposta do outro lado. Outro dia, estava no telhado, fazendo uma manutenção de rotina, ouvi o telefone tocar três vezes. Na quarta vez, desci rapidamente. Com certeza, alguma coisa séria tinha acontecido.

— Alô?

— Bom-dia, gostaria de falar com o Francisco Neves.

— Aqui não tem nenhum Francisco.

— Desculpa o engano.

A ligação encerrou sem mais nenhuma palavra ser dita. Ainda me pergunto, como as pessoas conseguem se enganar com tanta frequência assim? Claramente, algo precisa ser feito. O dilema é o que precisa ser feito?

Enquanto isso, o telefone fixo continua lá, acumulando poeira e uma imensidão de chamadas, todas elas realizadas por engano.

 

 

 

    

CONHEÇA MEU PRIMEIRO LIVRO DE CRÔNICAS:

https://www.amazon.com.br/dp/B082ZQJFTV

 

 

 

 

 

Até breve,

 

 

 

 

 

Compartilhe no Whatsapp