COLUNISTAS
Autor: Vander Christian
Velho Triciclo
2/2/2020 - Ribeirão Preto - SP
Já foi da minha irmã. Tinha até a cor preferida dela. Foi comprada numa época difícil.
— Cuida pra não quebrar, custou caro!
O aviso, dito de forma tão incisiva, deixava claro sobre qual era o objetivo dos meus pais: o triciclo teria que durar o resto da vida. Minha irmã perdeu a conta de quantas vezes brincou nele. Até eu vim, para, segundo ela, acabar com a alegria. Então foi o fim de uma era.
— Esse triciclo está inteiro desde quando sua irmã era pequena, cuida pra que ele continue assim!
Pronto, depois desse aviso fiquei com medo de brincar. Não queria correr o risco de quebrar um brinquedo que estava tanto tempo com a família. Ainda assim, continuei a andar nele. Até o dia que enjoei da cor. Queria um que tivesse a minha cor preferida. Queria poder colar uns adesivos, deixá-lo parecido comigo.
— O triciclo ainda está novo. Nem pensar em outro.
Eu cresci e o triciclo foi deixado de lado. Chegou até a desaparecer no meio das bugigangas no quintal de casa. Veio meu irmão. Pensei que ele ganharia um triciclo novo, já que era o caçula, que nada, teve que se contentar com o mesmo brinquedo, já quase sem cor e com o plástico todo rachado. No entanto, contrariando a todos, o triciclo durou toda a infância do meu irmão.
E assim, meus pais criaram três filhos que tiveram apenas um triciclo para brincar! Parece incrível, mas aconteceu. Toda família tem algo que faz questão que dure para sempre. Confesso que não sei o segredo para isso. Tenho o hábito de ir substituindo as coisas sempre que posso. Mas também não sei qual o segredo para os brinquedos de antigamente durarem tanto. Quem for na casa dos meus pais, certamente, vai encontrar o antigo triciclo lá, com toda a sua longevidade.
É realmente uma pena que outras coisas não durem tanto tempo assim.
Até breve,
