Autor: Vander Christian
Nunca tive jeito para roubar, é verdade. Se um dia tivesse que roubar para levantar uma grana, confesso que as chances de continuar sem dinheiro seria enorme. Falo por mim. Outras pessoas, tenho a impressão, que nasceram para roubar; veja os políticos, por exemplo... Ainda que seja algo simples, como a geladeira de casa, para roubar exige um grau de ousadia difícil de se encontrar em algumas pessoas.
Roubar algo de comer na geladeira, pode até ser mais tranquilo, a pena não é tão rigorosa assim. E foi com esse pensamento em mente, que, certa vez, resolvi entrar na onda do roubo dentro de casa mesmo.
— As coxinhas é pra amanhã — disse minha tia.
Não concordei com aquilo. Fiquei metade da tarde e começo da noite ajudando ela a fazer coxinhas, para provar só no dia seguinte, depois de encher o pote para minha prima levar na festa do colégio! Não, eu estava decidido a roubar uma coxinha naquela noite.
No começo tive medo, mas quando cheguei na cozinha a confiança estava num grau bem elevado. Abri o forno do fogão sem emitir nenhum ruído. Lá estava a travessa cheia de coxinhas; só o cheiro já dava fome! Percebendo que todos na casa estavam mergulhados num sono pesado, resolvi ser mais ousado ainda. Dentro da geladeira tinha um frasco de mostarda. A coxinha, certamente, ficaria ainda mais saborosa com a mostarda. Foi um grande erro ter tido essa ideia. Ao pegar o frasco de mostarda, acabei batendo sem querer numa panela com abóboras cozidas. A tampa da panela foi para o chão; o barulho foi imenso e eu fui descoberto.
Como punição, fiquei sem coxinha. Naquele dia, tive certeza que não levo nenhum jeito para assaltar. Nem mesmo a geladeira de casa.
Talvez fosse melhor ter esperado o dia seguinte para comer as coxinhas que sobrariam. Mas não tive paciência para esperar e acabei fazendo besteira.
É preciso saber esperar o momento certo de cada coisa. É preciso ter paciência. Isso pode evitar que uma tampa faça barulho e acorde alguém. Pode também, evitar uma punição.
Até breve,