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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Tropeando na época do Antônio

12/7/2020 - Ribeirão Preto - SP

  A sátira política é uma forte fonte de texto, de literatura, de pensamento, e de afirmações. Mostrando os problemas de um político para expor seus defeitos de maneira profunda, que se relaciona profundamente com o ser que é o político em questão, mostrando o que faz dele alguém ruim ou incompetente, não servindo para aquilo, não sendo bom, não tendo as características e condutas necessárias, agindo mal, por assim dizer. Com estas características, é uma forte fonte literária, sendo literatura mesmo, com seu caráter literário voltado para latejantes questões, algo muito forte nas superfícies das sociedades, literariamente relevante para compreender estes espaços e como determinados políticos agem nestes espaços. O grande poemeto campestre de Amaro Juvenal (pseudônimo de Ramiro Barcelos) ,Antônio Chimango assim fez, satirizando a conduta de seu primo e antigo aliado político, Antônio Augusto Borges de Medeiros. Já no poder há mais de dez anos, aproveitando de problemas da primeira república brasileira, Borges de Medeiros vinha constituindo política autoritária, se mantendo em excesso de tempo no poder, tendo negado cargo para Ramiro Barcelos ao senado. Usando a imagem do pássaro chimango, por causa do hábito do pássaro de comer carniça do chão, não caçando.

  O poema, composto por cinco rondas, conta sobre duas histórias, a principal dentro da primeira, completando esta, dando-lhe maior forma, transformando-a num evento maior sem desmerecer aquilo que a primeira é. Narra parte da viagem de uma tropa passando por vários pontos, encarando vários problemas, como chuva, cheia do rio Camaquã, tendo de atravessá-lo assim e, durante a noite, nas vigílias, as rondas, um dos tropeiros, um velho mulato de fazenda, chamado Tio Lautério conta uma história para a tropa, a história do Antônio Chimango, da Estância de São Pedro e de como ele assumiu e decaiu a estância, contrário do que Coronel Prates, quem o pôs no poder, fazia. Esta parte conta a vida da tropa, fazendo o entendido por vida e a história se entrelaçarem, formando uma coisa.

  A história contada pelo Lautério é focada no Antônio Chimango, magro como lobisome, mesquinho como o demônio. Narra desde seu nascimento, fala de sua vida, o que fazia; as suas funções na estância, destacando sua postura de fraco, sempre precisando de alguém para subir, não tendo ele mais forças suas. Por tal, o antigo dono da Estância de São Pedro, o coronel Prates, que representa Júlio de Castilhos, o coloca como capataz, mas com as rédeas em sua mão, governando por detrás. Assim, por já estar mais fraco, mas não querer perder o poder, usa o Chimango, por ser mais fraco e fácil de domar e controlar. Assim foi a estância mantendo certa qualidade enquanto Prates comandava Chimango, mas um dia o coronel morreu. O Chimango assumiu, ficando mais poderoso e dividindo certos poderes com José Turuna, morador dos Campos da Tuna, referência ao senador Pinheiro Machado, que morava no Rio de Janeiro. Faz suas propostas e o Chimango, com sua incompetência, faz a estância decair cada vez mais, o poema terminando sem saber como aquilo poderia ser revertido.

  Contando a história da tropa, a do Chimango dentro, o autor consegue criar uma grande sátira política, mostrando os resultados de uma má condução, associada a um cenário de instabilidade, autoritarismo e favoritismos, em paralelo com uma forma de vida daquele lugar, como esta corria por lá, e como isso se misturava e se moldava com a política, as duas sendo parte da mesma coisa, mas correndo cada uma à sua maneira. Neste estilo, o satirizado também se torna mais próximo da vida comum, ordinária, pois reflete naquilo e faz parte da vida deles de maneira internalizada, cotidiana. As características políticas refletem suas consequências práticas, o que são no correr da vida, Antônio Chimango sendo parte disto também, como personagem e como uma parte deste processo. A sua vida totalmente relacionada com isto, uma das partes mais influentes e visíveis de como acontece. A arte imitando a vida, mostrando como ela é.

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