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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Decrépito hipocondríaco

16/8/2020 - Ribeirão Preto - SP

Decrepitamente caracterizado, Augusto dos Anjos enviesou pelos sombrios caminhos da vida, conectado a eles, a isto entendendo profundamente, como se relacionam, como estão para com a vida, como está ligada com eles, a decrepitude do vivo, o caindo, o doente, o problemático. No seu livro “Eu”, bem como em poesias esparsas, foi fiel a sua poética, sempre ligada a estes aspectos da vida. O que lhe deu rechaço de poetas brasileiros da época, como Olavo Bilac, mas lhe garantiu imortalidade na poesia, sendo o poeta brasileiro mais lido, bem como dos mais originais.

   Em “Psicologia de um vencido”, parte do “Eu”, fala do homem filho do carbono e do amoníaco. O monstro de escuridão e de rutilância sofria desde a epigenêsis da infância a influência má dos signos do zodíaco. O ambiente lhe causava repugnância, era profundissimamente hipocondríaco, subindo à boca uma ânsia análoga à ânsia escapa da boca dos cardíacos.

   E o verme, o operário das ruínas que come o sangue podre das carnificinas, e declarava guerra á vida em geral, estava espreitando os seus olhos para roer. E lhe deixaria apenas os cabelos na frialdade inorgânica da terra.

    O hipocondríaco está apodrecendo, caindo, entrando pelo decrépito da vida. Tendo sido próximo disto pela vida toda, agora o sente ainda mais, estando-lhe mais próximo, compreende e enxerga além do que aparece em outros momentos, em todas suas partes, como se visse a queda, graças também ao verme, que lhe comerá. Está se dissolvendo, indo para sua decrepitude, fechando-se, cedendo a sua chaga.

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