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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

No fundo da alma

6/9/2020 - Ribeirão Preto - SP

O poeta Luís Vaz de Camões foi um conhecedor do amor, um entendedor do sentimento, um poeta do mesmo, em seus sonetos. Sendo uma das grandes e mais reconhecidas vozes clássicas da literatura, por tudo que ela é, representa e nos compõe enquanto existimos neste mundo assim formado, consegue transmitir o sentimento sobre que escreve, falar com aquilo que é profundamente conhecido e determinado na atual configuração de mundo, ainda em relação com seus clássicos. No décimo segundo, da coleção “Sonetos”, fala sobre um aprisionamento cheio de força por senhora, a força que dela emana, os sentimentos que ela carrega consigo.

  Seus olhos, competentes com o sol em formosura, lhe enchiam os seus de tal suavidade que se derretia.

  Os sentidos se submetiam cegos àquela divindade. Na triste prisão, a da escuridade, os olhos por fugir remetiam cheios de medos.

   Se o visse por acerto, aquele áspero desprezo com que ela olhava espertava a alma enfraquecida.

   A aquela gentil cura e estranho desconcerto, que faria o favor que não davam, quando aquele desprezo tornava a vida, perguntava.

   Sentindo, o eu lírico, naquela senhora as perigosas forças da suavidade, suas armadilhas e ciladas sutis, a isto caía, a isto se prendia, a alma daquilo saindo pelo desprezo, pela verdadeira falta de vontade da senhora, a alma saía, aquilo se esvaía. Um favor da cura, o que não davam, possibilitando a vida. Camões, articulando seu soneto para alguns sentimentos profundos da cultura existente, leva para suas partes e contradições pesadas, a prisão do eu lírico, a indiferença da senhora, a combinação do momento, a saída do eu lírico. Poetizando sobre a situação e a condição, o poeta atinge a areia coberta de água salgada, o chão profundo onde se assenta, lá fincando lugar, de lá sendo visto, de lá falando, lá permanecendo.      

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