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Vander Christian

Autor: Vander Christian

Pé de Amora

27/9/2020 - Ribeirão Preto - SP

Visitar um lugar antigo, que carrega muitas lembranças, é muito curioso. É um misto de felicidade com tristeza. Felicidade, por estar de volta naquele local, e tristeza, por descobrir que o tempo mudou tudo. Além disso, descobrimos que bom mesmo era antes... Agora não é mais. Todos nós temos um local especial, onde as melhores lembranças vão estar para sempre guardadas. E o melhor lugar para isso, é o quintal da casa de nossos pais. Geralmente, tudo lá é inesquecível. Até as coisas que eram ruins no passado.

Na última semana, estive no quintal da casa, onde vivi a infância e uma parte da adolescência. Entre tantas lembranças, fiquei realmente triste, ao descobrir que o pé de amora morreu. Essa época, era para o pé estar repleto de amoras; lembro que eu e minha irmã não tínhamos paciência nenhuma para esperar a amora ficar roxa.

— Espera a época certa! Isso vai fazer mal! — brigava mamãe enérgica.

Confesso que nunca passei mal por comer as amoras fora do tempo. Mas, sabe como são as mães...

Lembro que no final de Outubro, as amoras estavam no ponto para comer, manchar as mãos e as roupas de roxo. Era preciso disputar elas com os passarinhos, que também não resistiam ao ver o pé repleto de amoras.

— Por que eles não comem as que estão no chão? — questionava minha irmã.

— Por acaso, você come as que estão no chão? — devolvia mamãe.

Quando passava a época das amoras, o pé servia para meus pais quebrarem um galho, que era usado para bater nas minhas canelas finas. Nossa, como doía apanhar com o galho de amora! Eu sentia até uma certa raiva da amoreira, depois de apanhar. Queria que ela só existisse na época da fruta! Criança é mesmo complicado...

Ao ver o pé de amora morto, lembrei de tudo isso. De fato, o tempo muda tudo. Não tem mais as amoras, não tem mais os passarinhos e não tem mais as surras doloridas. Hoje, os tempos são outros...

 

 

 

 

 

 

       

 

Vander Christian é paulista, romancista e cronista. Sua paixão pelos livros começou ainda na adolescência, quando aceitou trabalhar como voluntário na biblioteca da escola em que estudava, desde então, o interesse pelo mundo da escrita só aumentou, passando a soltar sua imaginação e a criar suas histórias. Autor dos romances Karina, Passado & Presente e Duas Vezes Pamela Monteiro, publicados entre 2017 e 2018. Em 2019 lançou seu primeiro livro de crônicas: Gente Mala ou Gente Boa. Com aprovação em 7 concursos literários, assina textos em antologias como Precisamos Falar Sobre (Editorial Hope), Parque das Almas (Em contos Editorial), Plurais (Se Liga Editorial,  Aventure-se (Qualis Editora) entre outras.    

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