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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Num estado de lobos

15/11/2020 - Ribeirão Preto - SP

   Eleição é um momento de toque no poder, o momento em que a população faz mais influência nos representantes, pondo um representante do partido votado. Ainda que façam de acordo com que seus cargos assumidos permitam, bem como o que esquemas internos também, fazem diferença política por, nessa capacidade, tomar atitudes e rumos políticos capazes de mudar aspectos do estado, ainda que este conserve suas características mais essenciais, buscando a conservação de sua estrutura mundana. 

   Ainda que o partido escolhido faça diferença em termos de resultados políticos, existem aspectos fortes na política, as formas do poder em si que, por ser presente naquele estado, representam momentos e manobras inevitáveis, fazendo parte daquela forma política. Nestes momentos, faz-se medidas com os partidos por estes estarem presentes naquele contexto político, medidas inescapáveis, independente da conduta do partido colocado.

   Neste sentido, a política se mostra algo relacionado com todo o contexto dali, a eleição sendo um aspecto de tudo isso, com alguns resultados possíveis. Por isto, é preciso conhecer e se estar atento as características mais profundas de um estado, e quais grupos tem nele força, influência e por que.    

     Cronistas têm uma forte capacidade para pegar aspectos práticos da realidade e relacioná-los com outras questões, um dos motivos para o sucesso do gênero. Sobre vários assuntos e maneiras de falar destes. No caso político, capturam coisas complexas em pequenos detalhes, representações de como algumas partes e coisas acontecem. Um deles, Rubem Alves, falou sobre política em vários de seus livros de crônicas, hoje comento um dos da seção política do livro “Ostra feliz não faz pérola”, intitulado “Se começou errado não tem conserto”.

    Neste texto, fala sobre o destino da democracia, feito no momento de sua fundação. O qual não se consertará se os lobos forem eleitos para estabelecer as regras; será inútil as ovelhas berrarem ao serem transformadas em churrasco. Os lobos, eleitos como representantes para fazer leis, fizeram a lei de que é legitimo aos lobos comer as ovelhas. Os lobos não vão abrir, democraticamente, mão dos direitos que eles mesmo estabeleceram. E que as ovelhas são as culpadas; elegeram os lobos através do voto.

    Rubem Alves acerta ao demonstrar o erro das ovelhas e, principalmente, a incapacidade de se esperar democracia fundada como estado de lobos. Porém, subestima a força das ovelhas e a capacidade de alterar o estado dos lobos. Ainda que o estado fundado sob os direitos e as leis dos lobos não conseguirá se tornar outro, necessitando se desfazer, as ovelhas podem juntar suas forças para marcar a política, criar novos representantes e forças de poder. Com isto, conseguem algumas forças e proteção contra lobos, cada vez vendo a decadência do estado destes, aumentando o de ovelhas. Ao final, o estado dos lobos, fundado por aspectos políticos profundamente reais, irá vendo algumas forças das ovelhas, não podendo fugir tão facilmente.

     Como cronista, Rubem Alves conseguiu passar fortemente alguns detalhes políticos que passam para vários aspectos, similar a algumas fábulas, capazes de representar vários aspectos da política em contextos vários, inclusive com uso de animais humanizados, mesclando as características humanas e as que associamos aos animais. Colocando este contexto político, criado com seu conhecimento de pastor, fala de forma reflexiva, capaz de puxar vários momentos, ideias e maneiras de entender. Um cronista dos aspectos.

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