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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

O positivismo sociológico

10/10/2021 - Ribeirão Preto - SP

      A sociologia, enquanto ciência é bastante recente. Faz parte do espectro das ciências humanas, que se dedicam ao estudo do ser humano em suas próprias características, indo desde suas organizações, sua mente, seus pensamentos e sua essência. Trata-se de uma das grandes descobertas da modernidade que, com suas novas formas de pensar e conceber a humanidade conseguiu descobrir e pesquisar uma série de características dos seres humanos, extraindo disto ciência.

      Os estudos sociológicos orbitam as áreas compostas pelas relações sociais, ou seja, as relações humanas que envolvem aspectos sociais. É centrada principalmente no tangente a coisas como comércios, empresas, instituições políticas, órgãos públicos, grandes corporações e até mesmo trabalhos informais ou mendicância. Pode ser expandido para outras esferas e áreas, mas os pontos centrais rodeiam essencialmente o referente às relações que envolvem características sociais, aquelas que envolvem eventos característicos das sociedades, tanto aquela em questão, quanto esta em sentido amplo, buscando entender o que é uma sociedade.

      O primeiro pensador, entre os modernos, a pensar uma estruturação das relações e características sociais foi Augusto Comte, filósofo francês que fundou e estruturou o positivismo. Tendo como base os eventos e ideais da revolução francesa, a doutrina se fundava numa visão completamente cientificista sobre a vida e o ser humano, negando qualquer coisa que não pudesse ser explicada e comprovada pela ciência, incluindo emoções e ideias humanas. Para tal, buscava-se uma nova explicação da realidade e do mundo, baseada não só nas supostas completudes das ciências naturais, onde tudo seriam processos biológicos ou de outros aspectos da natureza, sem espaço para características ou ciência humana, ainda que fosse uma doutrina humana. Este aspecto do positivismo é considerado falso hoje em dia mesmo por biólogos.

      O pensamento positivista foi uma das bases do pensamento moderno, que foi gradualmente buscando novas explicações para a sociedade e seu funcionamento. Autores como Comte e Spencer buscavam a sociedade como uma coisa em si própria, regida por princípios físicos, químicos e biológicos do ser humano, integrado e parte de todo estes ciclos, apenas. Entendendo as sociedades e suas características como algo cientificamente ocorrendo, por si próprio, se teria algumas explicações do funcionamento destes mesmos processos, focados principalmente em processos das ciências universais. Surgem as primeiras concepções sociológicas, tendo a criação do termo ocorrido neste processo.       

      A concepção sofreu algumas modificações no final do século XIX, dando início propriamente à sociologia. O francês judeu Émile Durkheim, filho e neto de rabinos, é considerado o fundador da sociologia enquanto matéria, ciência. Tendo pensado inicialmente seguir carreira eclesiástica, desistiu e passou a lidar com assuntos seculares, vida também, abandonando os princípios religiosos. Sua sociologia retoma a linha e a filosofia de Comte e Spencer, na questão de pensar cada sociedade como algo em si próprio, com características de si mesma, quase como um microorganismo vivo.

     Enquanto o positivismo de Comte e Spencer buscavam explicar a sociedade apenas com base em características sociais, sem existência ou participação de indivíduos, as bases sociológicas de Durkheim vão além, destacando a sociedade como algo com características próprias, que rege e influencia quem vive nela. Cria-se e também acaba regendo a forma como as pessoas agem e pensam, por ser a sociedade algo concreto e feito por si próprio, com características coletivas e sociais, os fatos sociais, efetivamente presentes e caracterizando a sociedade, regendo.   

      Contrapõe um pouco o positivismo mais fechado ao colocar a presença e a noção do indivíduo, não exatamente como um agente de mudança ou uma parte viva e vital da sociedade, mas como existente em certo nível. Boa parte do ser individual reflete as características da sociedade em que vive; os valores, concepções, ideias, visões, hábitos e formas de vida. Ainda assim, o ser, a pessoa, existe propriamente como real, como alguém próprio, pois têm suas percepções. A ciência, enquanto cientificismo, também não seria a explicação completa, o ser humano, suas sociedades e sua psicologia não seriam apenas explicáveis como processos biológicos ou físicos. Estaria dentro da natureza, só que diferiria de outros processos, cada sociedade seria feita de si mesma, sem uma composição direta com fenômenos das ciências naturais.  

      A formalização do caráter científico da sociologia aconteceu no século XIX, bastante caracterizada pelo cientificismo do século, que dominou os círculos de pensamento da época, considerado uma face importante para o progresso, através do qual, entendendo os processos naturais através, seria possível construir os futuros da sociedade, chegar a novas descobertas importantes. Uma série de limitações foi sendo gradativamente superadas pela ampliação do conhecimento científico, vendo os equívocos de se ver tudo, incluindo questões humanas, como processos científicos naturais, não algo intrinsecamente humano, o que foi desmistificado.

      Ainda que mantenha várias bases positivistas, Durkheim conseguiu, em diversas medidas, ampliar o campo de pensamento sociológico, levantando aspectos fundamentais que faltavam nos parâmetros dos estudos de relações sociais. Mantém algumas questões relacionadas com menor ação ou intervenção social dos cidadãos, pois a sociedade é algo por si própria, sendo essencialmente algo que se coordena a partir de características que existem socialmente, coordenadas por mecanismos e formas dela mesma, sem tanta influência de indivíduos. O que coloca é a dimensão de pessoa na sociologia, pois, para ele, existem elas em si próprias, tendo visões, ideias e individualidades, que são em parte moldadas socialmente, em parte são características sociais, mas em parte são do próprio sujeito. Conseguiu mesclar os mecanismos sociais e a cultura da sociedade com os indivíduos que nela vivem.

 

 

 

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