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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

O fim da União Soviética

1/1/2022 - Ribeirão Preto - SP

       No último 26 de dezembro, em 2021, completou trinta anos que a União Soviética foi dissolvida. Após mais de setenta anos de existência, o gigante socialista chegou ao seu fim. Foi um dos blocos, um dos fatores que definiu o século XX. De uma maneira antes da segunda guerra mundial, de outra depois. Antes dela, esteve presente como um fator socialista que estava emergindo, organizando uma sociedade com princípios e formas diferentes do que se via em países capitalistas. Foi aliada dos Estados Unidos e Reino Unido na segunda guerra mundial, tendo sido fundamental para a derrota do nazi-fascismo e do hitlerismo. Após a morte do ditador nazista, houve uma forte cisão com os EUA, formando a Guerra Fria. Este representava o capitalismo e os soviéticos o socialismo, uma das formas pelo menos. Tal cenário foi decisivo para todo o desenho global da segunda metade do século passado, influenciando, de diferentes formas, cada um dos países. E também fez com que o século terminasse prematuramente, em 1991, quando foi dissolvida.

    O grande responsável pela derrocada do bloco foi seu último líder, Mikhail Gorbachov, o pior que o país teve e um dos piores políticos do século passado. Tendo assumido após Brejnev, teve um modelo político distinto dos demais. Um antigo líder soviético, Nikita Krhruschov, o primeiro após Stalin, já tinha feito políticas de aproximação com o ocidente, embora estivesse na guerra fria. Este tinha levantado algumas suspeitas do alto escalão soviético, por acharem algumas posturas ruins e imaturas, principalmente pela forte propaganda antistalinista do líder Nikita. Embora fosse bom, Krhruschov, assim como Trotsky, foi afastado do cargo, sendo substituído por Brejnev, considerado mais maduro e apto.

     Após a morte deste, Mikhail Gorbachov assumiu a liderança do partido comunista soviético. Assim como Krhruschov, também apostou mais em aproximação com o ocidente. Porém, diferentemente do antigo, este fez tudo do jeito errado e abraçando pessoas erradas, levando seu país e vários outros para a ruína. Nikita sabia haver qualidades ocidentais, mas não a perfeição destes, ou a primazia do capitalismo. Pensava em criar um sistema e uma União Soviética mais aberta, mas sabendo que o outro lado da guerra fria não era a perfeição democrática que tanto se cantava. Gorbachov, por outro lado, se entregou para os EUA e outros do mesmo lado. Foi fazendo aberturas que prejudicaram demais o país, a ponto deste se ver cada vez mais desestabilizado.

      As medidas adotadas, a Perestroika e Glasnost, tinham força e apoio de forças anticomunistas que visavam um enfraquecimento da política e do bloco soviético. Visavam, aparentemente, um jogo e um diálogo mais direto e aberto com a população. Em verdade, funcionou como uma base para enfraquecer a estrutura do país, bem como daqueles que faziam parte ou dependiam da ajuda soviética para sua economia. Ao final, Gorbachov destruiu a União Soviética, fazendo simplesmente a dissolução após uma série de políticas ruins, de jeitos mal feitos de política. Muito baseado em ideias de quem queria ver o bloco terminar. Assim aconteceu em 26 de dezembro de 1991.

    A pobreza na Rússia aumentou vertiginosamente, assim como em muitos outros países que dependiam do apoio soviético. Um exemplo muito visível e próximo do Brasil a respeito da situação ocorrida é Cuba. A ilha se mantinha bem nos tempos altos da União e, após a dissolução, perdeu importante apoio e parceria. Os anos 90 foram de muita dificuldade para o lugar e não conseguiu se recuperar desde então. Em 1993, um grupo bombardeou o parlamento russo na tentativa de restaurar a União Soviética, o que falhou. Após o estabelecimento da federação russa, o primeiro a governar foi o anticomunista Ieltsin, que tentou afastar toda a questão comunista do país. Fez além da pobreza, outros problemas sociais aumentarem. Seu governo foi muito elogiado e incentivado por forças ocidentais. Depois, quem assumiu o poder foi Vladimir Putin, que está até hoje governando. Gorbachov é uma das figuras mais odiadas pelos russos, pelo que fez com eles e sua incompetência governamental. Qualquer presidente estadunidense que fizesse com os EUA um terço do que ele fez a União Soviética seria considerado o pior traidor da pátria.

    Historicamente falando, podemos ver neste momento um possível ruir socialista. Alguns afirmam isto baseado no que havia sido o bloco no decorrer do século XX, com toda sua potência, no campo político, militar e espacial. Mesmo assim, viu seu fim. Para além da visível incompetência e vontade destrutiva de seu líder final, alguns acusam o modelo socialista de ineficácia, de impossibilidade. Para entender o socialismo científico, que orientou os soviéticos, precisa se atentar ao ponto principal referente à revolução descrita por Karl Marx. Que é a tomada de poder pelo proletariado, a partir de uma revolta grande da população contra aquele que oprime e gera desigualdade social. Isso seria possível no esgotamento do modelo, necessitando a criação de um novo. Uma revolução socialista derrubaria o capitalismo como a revolução francesa derrubou o antigo regime, modificando permanentemente a política. Assim o capitalismo não teria como continuar, e um novo regime surgiria, criando nova política. Marx em sua época teve bastante discussão com o anarquista russo Bakunin, que não via a possibilidade de um estado revolucionário, pois este é sempre ditadura, independentemente do sistema. Só a revolta faria então. Marx concordava que o estado é sempre uma ditadura, mas que somente através dele se criariam condições para sociedades mais justas, devendo ele ser abolido depois.

    Possivelmente, a URSS aconteceu em um período histórico anterior a isto, do qual foi um bloco criado mais como resposta a tirania e despotismo dos czares russos do que como uma necessidade e organicismo social. Sendo a única monarquia absolutista europeia no século XX, encontrava-se na necessidade de varrer tal tirania, facilitando que surgissem ideias e se resultasse numa revolução. O gulag, tão citado como uma das tiranias stalinistas era uma herança do império russo, já muito praticado na época do czar. No século XIX, Fiodor Dostoievski passou um tempo neles por envolvimento em círculos socialistas russos, quase sendo executado. No fim, teve a pena alterada para trabalhos forçados. E, no início do XX, um dos revolucionários, Mikhail Kalinin também passou um tempo em prisões da Sibéria, fazendo trabalhos forçados. Então, para além da orientação socialista, é impossível entender a União Soviética sem colocar a Rússia e suas formas de política como fatores. China e Cuba idem.

     Para além destes fatores históricos sobre experiências socialistas, é preciso igualmente lembrar o capitalismo. Surgiu há quase trezentos anos como promessa de melhora, de justiça social e igualdade jurídica, mas continua com os mesmos problemas que sempre teve. Isto é, suas enormes desigualdades sociais, super exploração do trabalho, pobreza e problema endêmicos de incapacidade de condições de vida para todos. Surgiu com estes problemas e ainda os tem. É correto que desde o fim do bloco, o século XX terminou também. Pois, as questões mudaram, fazendo do mundo diferente.

    Desde então está o mundo mergulhado em um marasmo político, uma única possibilidade, diferente do século passado, onde havia grandes disputas e possibilidades políticas. Aparentemente, a humanidade está condenada ao capitalismo, ao menos por enquanto. A melhor alternativa que ainda surge é um estado de bem estar social, em moldes e posturas castilhistas, onde, talvez, ainda haja força e extrato político. Seja como for, é muito difícil pensar que o capitalismo não terá uma nova oposição ao longo deste século, visto toda a desigualdade e pobreza que continua criando. Baseado em sua realidade, pode se perceber algo, garantindo novas análises e visões de como funcionam os sistemas políticos e econômicos. Ou talvez aquilo que foi colocado a respeito de o capitalismo acumular desigualdades maiores ainda resulte em uma nova revolução, possivelmente com uma participação popular maior, como foi em 1789. Uma brusca mudança política e social pode resultar tanto num neo-socialismo, devidamente organizado pelos proletários, quanto num neo-feudalismo, organizado pelos poderosos. Depende de mobilizações e de como poderão se desenhar os fatos sociais das sociedades. Uma sociedade existente no pós-apocalipse do capitalismo pode se tornar muitas coisas, pois ainda não existe. Depende de como for coordenada. O lobo do homem pode se enfraquecer, ou ficar ainda mais forte. De acordo com aquilo que  for na realidade.

 

 

 

 

 

 

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