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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Arte pela arte

2/1/2022 - Ribeirão Preto - SP

        Como nenhum outro campo ou criação humana, a arte atinge aquilo que é mais profundo; o que é mais real no universo e nas pessoas. O artista nasce com essa questão, essa sina em si e vai descobrindo. Ela determina todo o seu ser e como vai enxergar a vida e o mundo. Por motivos que todos desconhecem em especial os que fazem as artes, ela existe. Nascem alguns com estas percepções. Com o tempo vai descobrindo e aprimorando, por vezes até mudando. É algo que mais pode ser descoberto que criado. Trata-se de uma coisa que quem tem sente e é uma necessidade, sutil e indescritível. Por isso que seus enigmas e características são tão sentidos por aqueles que a fazem, sendo aquilo que se apresenta misteriosamente e se desenha.

         Uma vez descoberto e sentido este fator, o artista percebe e vai fazendo a sua arte. Quando entende um pouco como ela se organiza, dentro do possível, pensa criar a partir e nesta forma. Porque aquilo termina sendo uma manifestação sua, ou seja, algo que passa a ser próprio, e a falar sobre outras coisas. Passa a ser algo com valor próprio, escapando do artista, mas também sendo profundamente algo dito por ele, levando a dimensionar aquilo que escreve ou expressa de outra forma no que o artístico significa o que diz. Mesmo sendo algo que tem uma ligação direta com a subjetividade, sem a qual não existe, a arte também possui aspectos e uma externalidade completa. Porque tem atributos e características de produto, de objeto criado. Então possui estes aspectos igualmente. É uma criação, feita pela subjetividade artística, mas concretizada.  

         Colocado isto, tem sido feitas diferentes interpretações a respeito da arte, bem como os tipos de artes que os artistas criam. Por toda a questão da criatividade e vontade do artista, eles fazem a obra que lhes apraz, aquela que sentem. Em parte movidos por ideias não tão compreendidas por si próprios, menos ainda pelos outros, mas que sabem aquilo que criam, ao mesmo tempo. A partir de todo este contexto, várias interpretações artísticas surgiram feitas principalmente pelos críticos e pelos apreciadores. Algumas das principais ideias relacionadas com isso dizem respeito a entender se a arte é apenas algo em si próprio, sem função ou valor para outras coisas. Ou se pode ser de fato reflexiva, uma representação da vida, de questões sociais, psicológicas ou de espelho de que fala, quando comparada ao que acontece na vida real, em contraponto.

       Em verdade, os dois estilos são reproduzidos e feitos, por artistas e estéticas distintas. Há aqueles que fazem a arte apenas pela questão artística, outros fazem como espelhos, normalmente para questões sociais. Ás vezes faz também para fazer questões psicológicas através do protagonista ou de outros personagens envolvidos, que podem, eventualmente, complementar os psicologismos do principal. Nem raras vezes, é colocado as questões psicológicas como complemento dos aspectos sociais e políticos, normalmente para agregar, acrescentar, dar camadas a política falada e feita.

   Do lado feito essencialmente para a estética, se tende a ver apenas estes lados e apreciar como sendo isento de relações com outras coisas. Ainda assim, nem sempre isto acontece. Há obras escritas apenas para questões artísticas, sem relações com outras coisas, mas que apelaram para pontos importantes que refletiam. Em literatura, dois ótimos exemplos ditos são “O retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde e “Lolita” de Vladimir Nabokov. Tanto Wilde quanto Nabokov via a arte apenas como prazer, sem ter relações com outras coisas da vida, sem ter algo a dizer.

  Mas levantaram aspectos. Em Dorian Gray, foi muito levantado aspectos sobre vaidade, natureza humana, bondade e beleza, bem como, mais indiretamente, homossexualidade. E Lolita mais ainda, por trazer tema relacionado à pedofilia e ideia de ninfeta, que fala sobre cultura, sexualização e a pedofilia em si. E ainda pode influenciar na vida do artista. Se Nabokov como pessoa não se envolveu ou sofreu grandes problemas, com Wilde foi bem diferente. Acusado de sodomia com um garoto, seu romance foi utilizado, trechos deste, como prova do delito, como questão de perversidade e degeneração. Foi preso o autor, passando por isto.

   Poucas obras são puramente estéticas. Talvez a mais próxima disto sejam “As flores do mal” de Charles Baudelaire. Os poemas são essencialmente experiências sensoriais, apesar das descrições de cenas reais e um tanto mundanas. Porém foca principalmente em falar e colocar a arte, fazer os efeitos poéticos. Evita ser focado só nos aspectos realistas. Ainda que seja possível extrair sensações e espelhos. A partir disto, a estética se torna uma ferramenta fundamental para a arte, a qual não existe sem uma boa organização, sensibilidade estética que reflita e enriqueça seu material.

    Arte pela arte, como coisa isolada, pode até existir, mas ou é uma interpretação pequena, desconsiderando aspectos, ou se trata de algo totalmente afastado daquilo que se entende e conhece. Portanto, a arte é sim reflexiva da vida e de coisas reais, que enriquece com suas características próprias e sua grandeza. É uma criação subjetiva alinhada ao presente em seu redor. Faz as coisas serem mais bem entendidas e apreciadas. Portanto, arte existe assim e pode ser apreciada, mas relacionada à sua volta. Se nem todos os autores buscam a realidade como fizeram Honoré de Balzac, Vladimir Maiakovski e Graciliano Ramos, todos terminam colocando aspectos da vida dentro da arte. E esta não existe sem isto. Não é isolada, reflete aquilo que tem posto ao seu redor, as ideias presentes. Assim ela vive e tem seu imenso valor.

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