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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Edith Stein

25/6/2022 - Ribeirão Preto - SP

       Falar de Edith Stein é se referir a uma das figuras mais profundas e fascinantes do século passado. Sua filosofia, por ser igualmente profunda, continua instigando e fazendo ver muitos detalhes e características invisíveis. O que fica em volta traz uma série de questões teológicas, filosóficas e políticas, garantindo grande conhecimento e visões aos leitores. Um espírito extremamente inteligente e sensível para questões humanas, religiosas e sociais.

        Nascida em 1891 numa família judaica da Breslávia (na atual Polônia) bastante praticante teve, quando criança, bastante fé no judaísmo, por influência familiar também e por sua alma devota. Entretanto, ainda na infância, quase adolescência, perdeu a fé nos dogmas judaicos, se tornando ateia. O que desagradou bastante à mãe, o pai há muito já havia falecido. Por bastante tempo, manteve-se cética, não acreditando em questões religiosas e negando a existência de Deus.

       Fez faculdade, cursando filosofia, curso que sempre teve grande interesse, formando-se com distinção. Foi à primeira mulher no Império Alemão a ter diploma, formada em 1915. Durante a primeira guerra, participou como enfermeira voluntária junto a Cruz Vermelha, atuando também em hospital militar.

      Após a volta, torna-se professora em várias escolas, não conseguindo dar aulas em universidades por ser mulher, após publicar sua tese de doutorado “Sobre o problema da empatia.” Torna-se depois assistente de seu mestre Edmund Husserl, fenomenólogo que será de grande importância para sua filosofia, baseada também na fenomenologia e teologia. Passa a se dedicar mais a escrita política e filosófica.

     Por volta de 1920, começa a elaboração de seu livro “Uma investigação sobre o estado”, que concluirá em 1924. Estando em um contexto da dissolução do Império Alemão, após a primeira guerra, e do surgimento da República de Weimar, discorre sobre as bases e fundamentos dos estados, bem como o que eram para os cidadãos e como estes os influenciavam. É considerado seu último texto antes da conversão, bem também um clássico do pensamento político e social.

     Em 1921, após anos de ceticismo, intensificam as crises religiosas, levando a novos pensamentos e novas considerações. Já com trinta anos, o assunto volta a afetá-la. Após a leitura de “O livro da vida”, de Santa Teresa D Ávila, chega a novas ideias, enxergando mais coisas. Não apenas a leitura, mas também associada com vários outros fatores. Neste momento, decide se converter ao catolicismo, tendo uma de suas amigas como madrinha. No mesmo ano, é batizada e recebe a primeira eucaristia, novamente desagradando a família.

      Continua dando aulas e também fazendo suas obras ao longo da década. Passa a se dedicar também a escrita teológica, tentando principalmente uma conexão entre a fenomenologia de Husserl, filósofo que fora seu professor e o filósofo católico Santo Tomás de Aquino. Tenta encontrar pontos em comum entre eles, também numa tentativa de unir a filosofia moderna com a medieval, como se a segunda já conseguisse entender a essência da primeira, já retivesse seus fundamentos e lógicas, bem como a verdade. Já uma filósofa católica declarou: “A fé está mais próxima da sabedoria divina do que toda ciência filosófica e mesmo teológica.” Faz também estudos e publicações sobre grandes nomes do catolicismo, como Santo Tomás de Aquino, Santa Teresa de Ávila, Santo Inácio de Loyola e São João da Cruz. Segue professora e filósofa.

      Em 1933, o partido nazista chega ao poder na Alemanha. Uma de suas primeiras medidas é a proibição aos judeus de ocuparem cargos públicos. O que faz Edith sair do instituto em que ensinava. No mesmo ano, decide tornar-se freira carmelita descalça, como para realizar o chamado reconhecido, na região de Colônia. Em 1938, com o aumento da violência e perseguições é transferida para a Holanda, onde os nazistas ainda não tinham poder. Sua irmã Rosa, também convertida, foi junta. Porém, em 1940, o país é ocupado pelas forças hitleristas. Após críticas de bispos holandeses contra o Reich, oficiais decidem como vingança, capturar católicos de ascendência judaica, Edith e Rosa incluídas. São, em 1941, deportadas para Auschwitz em 07 de agosto, falecendo em 09 de agosto, em câmera de gás.

     Foi, em 1987, beatificada por João Paulo II, canonizada em 1998, pelo mesmo papa. Recebeu o nome de Santa Teresa Benedita da Cruz, em referência ao nome adotado quando foi para o Carmelo: Teresa Benedita da Cruz, em homenagem a Santa Teresa D Ávila. Foi chamada pelo papa de síntese dramática do século (XX), e, principalmente, a síntese de uma verdade plena sobre o homem. É uma das padroeiras da Europa e mártir católica.

      Sem dúvida, era ímpar. Por sua extraordinária inteligência e sensibilidade, se sagrou como uma grande teóloga, trazendo ideias importantes, principalmente ligações entre filosofia e religião, bem como ligações e bases destas. Muito do que pensou revela grande profundidade, mostrando muito do mundo, das pessoas e de como são. Um dos grandes espíritos, em vários sentidos. E que também sofreu muito, mas mantendo força no que cria. Assim como Jesus Cristo, foi muito perseguida e condenada. Também levada à morte por decisões e medidas políticas. Infelizmente, ela não ressuscitou ao terceiro dia.

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