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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Ópio do povo? Marxismo vs religião

16/7/2022 - Ribeirão Preto - SP

Dentre suas análise políticas, econômicas e sociológicas da sociedade, Karl Marx defendia o ateísmo, negando a existência de Deus. Tendo como uma dessas bases a defesa da ciência e do universo como algo em si próprio, também dizendo que o sentido da vida humana é algo construído por pessoas, dizia serem as religiões coisas falsas. Certamente, muitos outros fatores e questões foram levantadas pelo autor para pensar isto a respeito das religiões, mas irei focar no marxismo como antirrelioso, os problemas disto e se, de fato, as interpretações e ideias marxistas se tornam impossíveis na religião. 

               A frase de Marx mais famosa sobre religião é " A religião é o suspiro da criança oprimida, o coração de um mundo sem coração e a alma de condições desalmadas. É o ópio do povo". Como um dos pilares da sociologia que é, o autor olhava e interpretava a realidade sobretudo sobre o ponto de vista sociológico. Olhando a sociedade, suas constituições e suas instituições de maneira materialista, via os fatos e os acontecimentos desta maneira, dizendo que o que formava a sociedade eram as relações, ou as lutas, entre as classes sociais, onde uma subjugava a outra, dominando-a. 

               Neste sentido, as bases da sociedade e da organização humana seriam estas, basicamente. Claro que, complexificando suas análises, conseguia descrever fortemente aspectos sociais, principalmente características intrínsecas do capitalismo, mas focava bastante na formação material de classes sociais e suas disputas. Dentro disto a religião, sobretudo as instituições religiosas, fariam parte do processo de alienação do povo, mantendo a classe dominante no poder, sendo uma de suas mais poderosas formas de legitimação e propagação.

                Além do seu papel como agente do poder, de manter o povo alienado perante seus dominadores, ofereceria uma narrativa falsa, falando inverdades sobre o universo e a vida. Indo além da visão como uma falsa explicação do que faz a vida, ainda reflete, na própria frase, o efeito desta nas pessoas. Vivendo de maneira opressiva em suas condições, teria seu suspiro e alguma alma neste efeito, na salvação divina. Ao mesmo tempo, manteria-se sob um efeito alucinógeno, evitando que tomasse consciência de suas reais condições, atrasando e evitando a revolução proletária. 

  O ateísmo marxista, bem como muitas de suas ideias, ignoram dimensões importantes em relação às coisas e como estas são feitas. Falando sobre o ateísmo, o autor não considera real ou viável pensar em eventos não seculares, evitando a religião. Posteriormente, no século XX, apesar de regimes inspirados no marxismo terem proibido religiões, por entender que seria necessário para o pleno desenvolvimento humano, houveram algumas vertentes cristãs a pensar algumas relações com ideais socialistas, as vezes mais marxistas, as vezes mais utópicos.

                 Em relação ao espiritismo, Marx e Kardec foram contemporâneos por um bom tempo, o espírita sendo mais velho, morrendo antes. Não é confirmado, mas alguns especulam que o primeiro tenha frequentado algumas sessões do professor Rivail, tendo certo pensamento em relação ao espiritismo. Com certeza não o via como verdade, mas podia ter algumas ideias sobre a organização e filosofia espírita. Talvez por distanciar dele a institucionalidade religiosa e o apoio que esta dava ao capitalismo. Alguns espíritas chegaram a relacionar a doutrina com algum futuro socialista, no qual o reconhecimento espiritual conseguiria apagar uma série de diferenças humanas, fazendo com que fosse possível uma sociedade igualitária.    

                A afirmação do ópio do povo é equivocada por causa de sua incapacidade de perceber os elementos religiosos em questão, e mesmo por não considerar um possível papel positivo que a religiosidade pode influir na vida da pessoa. Aqui tem a contradição de que esta mesma poderia estar sendo enganada quando poderia perceber a realidade e a alienação inserida, logo partindo e concretizando a verdade. Só que não há tanto equívoco nestas percepções, e sim uma visão do que ocorre e existe, aliada com alguns interessantes sensos de realidade, sobretudo no que se diria sobre possibilidades de revolução social científica, uma visão popular crítica. Há um erro no marxismo em sua afirmação sobre o ópio do povo, que já foi bastante revisto. Mas vê-se alguns pontos importantes nesta questão.

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