Autor: Thales Kroth de Souza
O conflito entre Israel e Hamas expôs condições inimagináveis que a tecnologia e o acesso à informação são usados e considerados no século XXI. Se no passado o conflito ocorria longe dos holofotes, mas tão somente impresso nos jornais como algo muito longe, distante, fora do quotidiano das agitadas cidades, hoje, nunca viu-se algo tão próximo capaz de fazer autoridades, personalidades e organizações pronunciarem-se sobre o episódio através das próprias redes. É uma nova abordagem, mesmo que seja de acompanhamento indireto como é feito na Guerra na Ucrânia, que hoje perde-se o fio da meada pelo alongamento que a guerra se originou, o conflito israelo-palestino tem uma outra abordagem se levarmos em conta que soube-se de todos os movimentos quase que em tempo real.
Ao primeiro ataque em 07 de outubro, muitos entenderam como a primeira ofensiva da guerra que dura mais de 50 anos e arrasta-se através da política, debate, até chegar nas vias de fato. Aos poucos, observa-se que países começavam a se manifestar e tomar um lado no conflito, mesmo os países mediadores como ONU e o nosso Brasil. As raízes dessa conflito remontam do século XIX e há quem diga que pelas invasões históricas e conflitos, que gerou várias perseguições ao longo dos anos, como no ambiente de maioria árabe, influiu mais lenha na fogueira.
Mesmo após tantas questões na história, ainda hoje é muito difícil uma conciliação, acordo ou tratado para encerrar o conflito, garantir direitos e responsabilidades por vidas humanas e aproveitar o intercâmbio cultural. A verdade é que há já entrincheirada a guerra cultural, de trabalhos, religiões e que atrapalham qualquer movimento de busca de paz. Ambos cabeças-dura não têm o braço a torcer e teimam na reputação, controle e a tensão aumenta.
Para os israelenses, o ganhador do Nobel da Paz em 1994 e ex-Presidente da Palestina Yasser Arafat era um terrorista, mas os palestinos um mártir que simbolizava as aspirações nascionais de seu povo. Não pensem que a celebração de acordos com intermediação de ex-Presidente Bill Clinton dos Estados Unidos juntamente com os primeiros-ministros Yitzhak Rabin e Shimon Peres de Israel, também estes dois ganhadores do Nobel da Paz em 1994, foi um caminho aberto e sem problemas para a assinatura de colaboração, em novembro de 1995, Rabin foi assassinado por Yigal Amir, um militante judeu ortodoxo de extrema-direita, condenado à prisão perpétua em 1996 mais 14 anos por outros crimes. Peres escreveu em seu livro "O Novo Oriente Médio" a visão sobre o futuro do Oriente Médio o qual os interesses nacionais e econômicos seriam os guardiães da paz. Muitos israelenses não possuem essa mesma visão e não configuram a intenção adequada da transformação para que essa troca ocorra.
A partir do crescimento do Hamas, que é um movimento islamista palestino, sunita, filantrópico, político e armado, muito ativo em Gaza, possui um objetivo diferente do que o próprio ideal de Palestina para o ocidente interpreta. Fundada em 1987, no passado recente aceitava a etapa do Mandato Britânico da Palestina, que seria uma administração que ocorreu entre 1920 e 1948, hoje interpreta a esperança de um país livre, nacionalista, um estado palestino desde o rio até ao mar, mas enfrentamento ao ocidente, esse o item que pesa para que muitos países como EUA, União Europeia, Japão, Canadá e Israel a considerem como organização terrorista; é preciso lembrar que alguns países condenam o seu braço militar, como Austrália e Reino Unido, outros não manifestaram essa ideia como África do Sul, Rússia, Brasil e a Noruega.
As eleições de 2006 marcaram um capítulo à parte na história da Palestina com a vitória do Hamas e a Batalha de Gaza, onde também teve de devolver US$ 50 milhões de auxílio dos Estados Unidos, assim como à transferência mensal de Israel que realiza mensalmente de US$ 50 milhões através de impostos e taxas de palestinos que trabalham em Israel, para pagar por serviços de saúde, educação e segurança pública para 3,8 milhões de pessoas ou 20% da Palestina. em 2007, entre os integrantes derrotados eleitoralmente Fatah e o Hamas, que acabou com a expulsão do Fatah e independentes. Houve uma reconciliação em 2011, mas muito criticado pelo já então primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu. Houve proposta de cessar-fogo em fevereiro de 2006, com Khalid Meshal, líder do Hamas, principal arrecadador de fundos, mas não saiu como desejado pela intenção de solicitar os territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias (1967), chamada Guerra árabe-israelense de 1967 ou mesmo Terceira Guerra Árabe-Israelense, para uma trégua de 10 a 15 anos.
Desde 2007, o Irã e a Arábia Saudita interpretaram de outra maneira as intenções do Hamas pela sua associação religiosa, cultural e econômica. Os países nunca consideraram o Hamas como organização terrorista e não pararam de relacionarem-se nem de financiarem suas operações. Para entender o entendimento político entre os países, Mahmoud Abbas, presidente da Palestina (desde 2005) declarou em 2018, na reunião do Conselho Nacional da Palestina que os judeus na Europa foram massacrados durante século por causa de seu papel social relacionado a usura e bancos, condenado por Israel, ONU, EUA, União Europeia, Alemanha e Suécia. O que acirrou os ânimos e aumentou a tensão de diálogo para a região.
Politicamente, mesmo com Benjamin Netanyahu (2009-2021; desde 2022) como primeiro-ministro com Shimon Peres como presidente (2007-2014), com Reuven Rivlin (2014-2021) e com Isaac Herzog (desde 2021) mantiveram um posicionamento de tentativas de conciliação, mas defesa de seus interesses essencialmente. O líder político israelense atual defende o congelamento de assentamentos judeus na Cisjordânia, mas acredita na solução de dois Estados com Israel e a Palestina como protagonistas.
Recentemente Netanyahu garantiu que Israel invadirá a Faixa de Gaza por terra sem um prazo específico para a ação tática e reforçou que o objetivo da guerra é acabar com os terroristas do grupo Hamas, com a região sendo atacada a duas semanas. Também houve rejeição de resoluções dos EUA e Rússia sobre o conflito, com o veto pela continuidade ao impasse da ONU perante o conflito que transforma-se em uma guerra. Segundo as últimas informações, o número de mortes recentemente chegaram a 8 mil, o plano norte-americano de US$ 14 bilhões para participar na guerra e posições da Turquia, Rússia e Irã para o Hamas e a mudança de posicionamento da China para com Israel são questões que afligem a discussão.
Ainda assim, não é possível identificar como esse conflito tornou-se tão significativo para ser um debate exclusivo de pessoas comuns. Mesmo com imigrantes da região, apoio da Força Aérea Brasileira com operação de repatriação de brasileiros e outras vertentes, não há como saber o momento que tornou-se o principal assunto das redes sociais a não ser as informações, notícias, imagens e vídeos oriundas da tecnologia com configuração em tempo real para a tomada de decisão em se posicionar a favor ou contra. Realmente, algo supreendente e novo nos padrões atuais mesmo para quem já acompanha atento novidades.
A solidariedade com outro ser humano é a principal característica do brasileiro que há pessoas que salvariam, adotariam crianças palestinas que ficaram desabrigadas, assim como judaicas que foram sequestradas ou tiveram perda de familiares. Hoje, essas questões que não são levadas em conta e ficam batidas já tornam-se sem significância pela tecnologia e conexão que obtemos informações, mas em um assunto complexo e delicado como esse não seria um assunto mais que escolhido com todo o seu contexto histórico e relevante para compartilhar. Muitos ainda atrapalham-se no entendimento que não há mocinho ou bandido, apenas o uso do bom senso que há mocinhos palestinos e israelenses, assim como há bandidos palestinos e israelenses, pois o ser humano consegue ser vilão e heroi ao passo que na correria e interpretação de rotina, as informações são insuficientes para tomar um posicionamento mais coerente.
Não há uma certeza absoluta sobre o resultado deste travamento atual, mas a interpretação que muda a forma do povo ao analisar criticamente ações é interessante. Famílias palestinas sofrem nas mãos de pessoas más na Faixa de Gaza, não sou eu que estou dizendo, são diversos vídeos que tive acesso, assim como filhos de pais assassinados por integrantes do Hamas choram ao não ter saída a não ser contar com suporte terréo de comunidades próximas. Hospitais foram atacados, pessoas foram feitas priosioneiras, tudo em nome da causa e essa história é conhecida em outros contos e causos pela proporção de sofrimento e medida. Se na Guerra na Ucrânia o pedido de paz foram em vão, não será dessa vez que serão acatados. A lógica perante ataques brutais do grupo terrorista Hamas com aproveitamento sorrasteiro mostra a sua verdadeira face. A complicação está muito mais pelo seu legado ao sujar a verdadeira intenção de uma Palestina livre, saudável, próspera e com amor para seus cidadãos que merecem, diferente de fazer o próprio povo sofrer, o que é inconcebível e inaceitável em qualquer diálogo político.
Vejo muitas perdas com essas ações, talvez no futuro a experiência de ver tantas pessoas posicionarem-se, não ter receio de exporem seus pensamentos, esperanças, identificações e vontades marquem esse período; logicamente diferente da cena que acompanha-se: se houve queima do Alcoração na Suécia, houve bandeiras LGBTQIA+ queimas no Iraque, acho muito ruim essa troca, não é um caminho saudável de provocações que convergiram para um diálogo saudável de posições. Apesar de estar acostumado a conversar com pontos diferentes que acredito, ainda não vejo nenhum extremismo ser resposta adequada para o planejamento estratégico de uma nação em ascensão o que dirá de uma em desenvolvimento pleno para com seus desafios?
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