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Vander Christian

Autor: Vander Christian

Igrejinha

24/1/2024 - Ribeirão Preto - SP

Antes, foi uma igrejinha. Daquelas simples, cercada por uma praça, onde pessoas passavam o dia jogando dama, dominó e carteado. Às dezoito horas, o sino tocava, anunciando a Ave Maria. Alguém fez uma doação generosa para o padre, e as madeiras velhas da igrejinha foram trocadas por outras em melhor estado. A pilha de tábuas ficaram um bom tempo nos fundos do salão paroquial, juntando insetos e cupins. Até que uma família resolveu comprar e doar para outra mais necessitada. Uma casa de seis cômodos foi erguida. E dentro dela, uma história nasceu e se estendeu ao longo dos anos.

Pessoas simples e acolhedoras viveram ali, enfrentando os desafios que a vida impôs. As madeiras nunca viram tinta, tão pouco verniz, pois o preço assustava qualquer um. Ainda assim, foram muitas chuvas, sol e sereno da madrugada; todos eles testaram o tempo de vida que elas aguentariam. Algo antigo tem uma força incrível, do tipo que ninguém consegue explicar. Caso fosse nos dias de hoje, antes da igrejinha ser erguida, as tábuas já estariam pedindo socorro...

A casa simples precisou ser derrubada; já que um programa da prefeitura local não permitia mais imóveis em condições precárias.

— Vou fazer um barracão pra guardar ferramentas! — disse um integrante da família.

E o barracão foi erguido nos fundos do quintal. Está lá até hoje. Lá se vão noventa e oito anos, desde que as madeiras se tornaram paredes para a igrejinha. Deus, quantas histórias elas viveram! Das pessoas que viram elas pela primeira vez em frente à praça, ninguém mais existe... A última, foi minha avó, falecida há algum tempo.

Como eu queria ter a força dessas madeiras. Não para ser eterno, mas, para colecionar histórias e poder contar às famílias simples, que um dia cruzassem o meu caminho.

Infelizmente, somo passageiros e nossa viagem, diferente das madeiras da igrejinha, dura apenas alguns quilômetros.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vander Christian é paulista, romancista e cronista. Sua paixão pelos livros começou ainda na adolescência, quando aceitou trabalhar como voluntário na biblioteca da escola em que estudava, desde então, o interesse pelo mundo da escrita só aumentou, passando a soltar sua imaginação e a criar suas histórias. Autor dos romances Karina, Passado & Presente e Duas Vezes Pamela Monteiro, publicados entre 2017 e 2018. Em 2019 lançou seu primeiro livro de crônicas: Gente Mala ou Gente Boa. Com aprovação em 7 concursos literários, assina textos em antologias como Precisamos Falar Sobre (Editorial Hope), Parque das Almas (Em contos Editorial), Plurais (Se Liga Editorial). Aventure-se e Desafia-se (Qualis Editora).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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